quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

As várias mortes de uma mãe

Vocês me dão licença. Vou até sentar aqui porque esse post vai doer. Ele vai falar de uma morte que a gravidez me trouxe. Uma não: várias.

Aqui nesse mesmo blog, há algumas semanas, escrevi sobre meu incômodo com a licença maternidade. Sem explicar demais e em apenas uma frase. Mas isso bastou para trazer outros incômodos. Procurando ampliar a discussão de forma bacana com as pessoas que me questionavam, encontrei esse vídeo aqui, que falou por mim:


E dele, veio o Eduardo Augusto B. Santos, escritor, e me mostrou esse texto. E esse texto, cara... Booooooom!

Olhei pro lado e vi minha história de fora. Achei que precisava falar. Apesar de relutar sempre e tanto contra isso, quero contar 3 das inúmeras mortes que passei para minha filha nascer. E vou fazer isso de um jeito tão honesto que, claro, muita gente vai se incomodar. O legal de ser um zumbi é que a gente não se importa mais com essas coisas... ;)

Primeira morte: a gravidez é um óculos que te faz ver a real intenção das pessoas

Não sei se acontece com todo mundo, se é um mecanismo maluco de defesa da mãe mas aconteceu comigo. No começo doía, eu queria parar de ver,  de perceber, de absorver demais. Hoje, considero uma dádiva. Um turbilhão de sensibilidade foi se transmutando em intuição e destreza. Alí, fui vendo que metade de mim era eu e a outra metade era o que o mundo queria que eu fosse. Cortei essa última metade. Mas a outra também sangrou.

Pra começar: o Rodolfo
Comecei mudando de casa, doei absolutamente tudo o que tinha e me mudei para um lugar novo, com apenas roupa, livro, meu marido e mais um cachorro. Nessa casa, passei toda a gravidez. E ela não tinha mesmo nada, de verdade. Não tinha TV, som, móveis, água quente... Alí, renasci pra confirmar uma coisa q eu desconfiava desde cedo: não se precisa MESMO de 90% das coisas que a gente compra. E dessa fase sem coisas, pude ver melhor as pessoas. E quando vi, precisei me segurar firme na fé. Porque boa parte delas não valia um livro meu. Já as que ficaram, são hoje a minha casa.

Segunda morte: o mundo ficou de mal porque eu não ia parar de trabalhar.

Logo eu, que tinha criado uma empresa de inteligência web com cultura homeoffice e modelo horizontal, lá em 2011, justamente para fomentar um mercado de trabalho mais justo (principalmente para as mulheres). Via aquela luta Ter filho X Ter carreira e nunca entendia porque as 2 coisas não podiam seguir juntas. E elas podem (não sem meia dúzia de pseudo ativistas de mil causas de fachada te chamarem de mulher maravilha com ironia, mas podem).
Vamos repensar o real processo da mulher no mercado de trabalho quando ela é mãe? Ou vamos continuar ora escravizando-as em casa por conta do filho enquanto o homem trabalha ou, a outra escolha não menos cruel,  que é ir pro trabalho morta por dentro por estar longe da sua cria? 
Só  que o caminho era muito maior à minha frente e segui como um touro solto na arena. Metade grávida, metade morta por saber que o machismo triplica quando você está prenha. E vem flechada de todo lado, inclusive, de onde menos se espera. Ouvi de tudo. Teve: vai pra casa, uai... cê não parou ainda?, desculpe querida mas agora que você está grávida vou cancelar o contrato e muitas outras coisas que acertaram meu estômago. Mas a beleza da vida dos corajosos é sempre ter as melhores surpresas. E no mesmíssimo lugar onde vivi isso, também me chegaram flores, abraços, sopa quente, um berçário na agência pra levar minha filha (com apenas 45 dias) e um monte de amor me guiando nessa tarefa.

Sim, ganhamos quiabo de presente.
Então, morri a segunda vez quando entendi que fazer uma mãe cuidar de uma criança sozinha é um crime. A gente precisa não só do pai dela como da vó, do primo, dos amigos, da vizinha, do motorista de ônibus, do mundo inteiro. Abandonar uma mulher que tem uma criança no colo não devia ser aceito em nenhuma sociedade. Mas, por aqui, não é isso que acontece. E quantas noites chorei me perguntando: meu Deus, como a fulana conseguiu? 4 filhos, sozinha, trabalhando pros outros, que dor! E alí também entendi que precisar de alguém não é terceirizar a maternidade. Eu queria criar minha filha e não delegar isso porque ai, a vida de quem trabalha é assim mesmo, boba... Pra mim não ia ser.

Essa é a Cinthia, do Mãe At Work, com as filhas Eva e Aurora:
a moça tá mudando tudo isso com a gente!

Terceira e não última morte: filho é  só UM dos projetos.

Desde antes de pensar em ter uma filha, eu já tinha certeza de que tinha (e tenho) muita coisa pra fazer nessa breve existência. Nunca me imaginei em casa de bobs e Canechom bordando as iniciais do meu marido num roupão mas também não imaginava que ia encontrar um cara tão absolutamente grandioso e forte pra ser o pai da minha filha.

Eu era infeliz e não sabia.
De parir a criar, fazer a comida, cantar, sofrer, decidir, ficar sem dormir, dar de mamar, se recuperar: em tudo ele tava junto, quase que fazendo também. Em absolutamente nenhum momento ele fugiu, deu desculpas ou não pôde. Ele pôde e foi por 3, 4, 5 pessoas ao mesmo tempo: por mim, pela nossa filha, por ele, pelo trabalho, pelo mundo. Naquela hora onde eu só tomava na cara por não achar que minha vida ia acabar, ele foi (e é) a maior inspiração pra uma moça malvada que antes tinha até uma certa preguicinha de homem (maioria machistão, bundão, imaturo e medroso). A sabedoria e a paciência dele me bateram na cara com força (que ironia) até entender que EU estava sendo machista. E dessa lição toda nasceu um dos projetos mais bonitos da minha vida, que está só começando. E não, não estou falando da nossa filha. Estamos construindo um mundo novo pra ela, pra gente, pra você, pra quem não acredita nisso também, com a cara e a coragem, e é a mesma sensação de nascer. Você chega pelado, sem saber nada, sem entender nada. E vai, bravo e corajoso, um dia de cada vez, se formando gente, se fazendo cada dia mais forte.

Uma vida é pouca.
E tem mais gente que nem o pai da Lis pelo mundo. Ufa!

Depois de tudo, fica a porrada. Cada vez que eu renascia dessas mortes, via um mundo mais caótico, confuso, raivoso e perdido. Só que, estranhamente, em vez disso tudo me deixar triste, me deixava mais esperançosa. Sinal de que as coisas estavam mudando. Sinal de que eu não fazia parte de uma minoria sonhadora que falava em mudança. EU ERA A MUDANÇA.

É hora de enfrentar a sociedade patriarcal. É duro mas a gente aguenta.
Hoje, tenho um orgulho danado de mim. Pelas minhas 20 horas de parto normal, por ter largado tudo, ressignificado tudo, lutado como uma doida pela minha verdade, por não ter aceitado entrar na caixinha da mulher indefesa que teve filho, por ter refeito tudo de um jeito MUITO MAIS HONESTO e melhor, por ter feito uma família, um lar, uma nova Marcela, em apenas 1 ano e 1 mês. Hoje, eu me respeito, trabalho com o que amo sem aceitar suborno de ninguém, muito menos de mim mesma, sem aceitar mediocridade, cercada de pessoas que admiro (e conhecendo outras tantas, a cada dia) e com projetos que não só acredito como fico envolvida até o último pedaço do útero.


Não existem mais farsas no meu dia, não existem meias verdades nem poses, nem máscaras, nem falsidade, nem cara amarrada, nem fofoquinha, invejinha, puxadinha de tapete, conversinha pelo corredor. Não existe corredor! Hoje, sou mais do que nunca uma FORMIGA pequenina e guerreira, trabalhando no meio de um milhão de outros bravos soldados nessa terra imensa, cuidando do meu pedação de futuro com garra e orgulho, lá debaixo da terra, sem holofote, sem querer Iphone 6, focada na missão de construir um mercado novo, justo, onde a gente não aceite mais tapa na cara, disputa, desrespeito e baixaria, lutando para que o consumo seja repensado, para que a educação das nossas crianças seja reformulada, para que as mulheres sejam respeitadas, para que aquele mundo egoísta das pessoas pequenas e donas de tudo seja implodido, porque como ele estava, não dava mais.


Hoje, sei que não sou a única. E se você me leu até aqui, também não é. Me escreve, me liga, me grita... vamos ser muito mais. Quem bom que tem a gente!

Com amor,
MB ;)






quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Vamos escrever os livros dos nossos filhos?

Sempre tive essa vontade secreta: escrever. E de fato, na gravidez, escrevi um livro pra minha filha.

Primeiro rascunho que nasceu essa madrugada...
Eis que essa noite, escrevi o segundo e pensei: e se a gente pudesse fazer isso juntos? Mães, pais, avós, amigos, padrinhos, toda a família? Escrever os livros que nossos filhos vão ler, com histórias pessoais, do dia a dia da criança, da realidade dela...

Bom, é uma ideia embrionária que está hoje no laboratório da minha empresa. E enquanto prototipo o projeto na Formiga, resolvi compartilhar o meu primeiro livro colaborativo com vocês. E ver se mais gente topa, e ver se vocês gostam, e ver a cara da Lis enquanto mostro o livro pra ela no Ipad...

Já to achando que valeu a pena. ;)

Para continuar a história, envia sua participação por email. Pode enviar com ou sem a ilustração. A gente continua essa ideia juntos e, daqui a pouco, lanço o volume 2, com um pouquinho de história vinda de cada um de vocês. Como um presente pra Lis (e pros nossos filhos).


Vem comigo, gente?

Com amor,
Mamai

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Mãe sem culpa

Meses se passaram e o mundo espera o post que vai enfim vai trazer aquele desabafo sofrido sobre a dificuldade maior em ser mãe.

Bom, anotei aqui e a pior parte de ter filho é:

- dormir uma noite inteira...  Não.
- ter vida a dois de novo? Não.
- iniciar a alimentação do bebê? Não
- arrumar a casa, trabalhar, voltar a vida normal? Não!

Pasmada. Minha filha fez 6 meses e a maior dificuldade que encontrei até agora com o nascimento dela não tem porra nenhuma a ver com ela.

Doidas, desalmadas e atrevidas.
A merda maior é enfrentar o mundo revoltado que você é uma mãe sem medo, sem culpa e sem neura. E mais: que você não quer disputar filho, nem educação, nem crença. E pior ainda: que você não tem dó da sua filha e muito menos de você mesma. Que horror!

Uma mãe que coloca roupa de menino na menina.
Se você não se veste de branco com o cabelão comprido, não compra uma enorme mala rosa com o mundo do bebê la dentro, se você não demora 3 horas pra sair de casa com medo de esquecer alguma coisa, se você não chicoteia as costas a cada decisão que toma com relação ao seu filho ou quando não faz amizade imediata com qualquer mulher com criança no colo: PARA TUDO que você é uma mãe LARGADA.

Toxic Girl
Se você não reclama, não está surtada o tempo todo choramingando a nova vida, se volta a trabalhar normalmente porque ama trabalhar tanto quanto ama seu filho (e pode amar algo tanto quanto um filho? - a resposta num outro post), se opta por não se enfurnar 6 meses em casa desenhando uma rotininha pra criança que nem ela aguenta, se você acha que licença maternidade só existe porque empregos desrespeitosos existem, cuidado: você é uma EGOÍSTA.

Se você não vive com medo que seu bebê vai engasgar, morrer, sufocar, se você não faz escândalo quando bate um vento, quando ele acorda com uma febre, se não se descabela quando o neném chora demais e até xinga ele por isso, se ri quando erra em algum percurso diário ou quando o cachorro lambe a boca do seu filho e não se castiga porque ficou cansada e fugiu da criança que acordou 2 vezes de noite... Bom, o mundo vai te olhar feio. Muito feio!

Nossa, mãe! Como somos Stock Image...
Nossa sociedade criou um jeito de maternar que não pode existir sem ela: A CULPA. Mãe sem culpa não é mãe, não é boa mãe, não deveria nem ter tido um filho. E isso é tão absurdo que chega a doer. Ver mães desesperadas, adestradas, competitivas, entrando num universo materno digno de mestrado, anotando todas as cartilhas, todos os macetes, angustiada, sem dormir, sem viver, não pelo filho em si mas pra seguir certinho o que tem que ser feito pra provar que é boa mãe. Esse é o novo mundo que está criando novas pessoas. Um exército de mães perfeitas julgadoras das outras mães malucas.


E no meio da gincana toda, fica a criança, esperando uma mãe aparecer. Ainda que brava, cansada, vomitada, descabelada ou linda, arrumada, indo pro trabalho ou o que for... Um neném espera apenas a sua mãe porque é ela que ele quer ter por perto. Ou até o resto dela, que também já serve.

E ser inteira é a melhor parte de ser mãe. Justamente por isso que todo o resto também é uma delícia. E me desculpe os que torceram pra eu estar fudida: eu nunca fui tão EU quanto SOU agora.

Eu nunca estive tão feliz. 

Fodaz, mundo! Ass: mamai

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Baby Blues x Baby Rock

Estamos de volta, agora na tão esperada e atualizada versão do app Gravidez: a versão 2.0, a.k.a. com nenem. Portanto, mais objetiva e direta que nunca.

Comece não acreditando em tudo o que tá no BabyCenter.
Baby Blues. Gata, seguinte:  joga no Google, lê tudinho, com cautela, entenda os pormenores e permita-se ter isso da sua forma, desconsiderando firmemente essa mídia ridícula aí que coloca na sua conta as merdas desse sintoma totalmente químico, ditando impropérios como: poupe seu marido, segure a onda pelo seu bebê, tente cortar o cabelo e se maquiar pra melhorar, aceite a opinião das pessoas em volta, entenda que o bebê precisa de você o tempo todo e por aí vai.  Segura a cabeleira suja que este post vai ser bem rápido, diretão, papo reto... Não pq o nenem tá me dando trabalho mas pq acho que olhar pra cara dela é mais divertido que olhar pra tela clara do pc.

You know that I'm no good...
Enfim, Baby Blues é um período relâmpago que chamei de rebordosa e sim, existe pra caraleo. Se deixe ter. A primeira coisa. Informe-se, chore, xingue, faça exatamente como seu coração manda, evite a culpa, derreta-se de culpa, acorde descabelada e se odeie, escove o dente e se ame, viva alguns dias como se fosse o Oswaldo Montenegro, fique bem maluca mesmo, não escute ninguém, não faça nada que não queira. Exatamente isso: nada. E não ache que seu nenem vai morrer por isso, por favor. E não ache que seu companheiro vai te largar. E não ache nada. Apenas seja a locona do pós parto. E fodaz tudo. Entende?
 E como não? E porque não dizer que o mundo respirava mais se ela apertava assim?
O lance é que você ficou 9 meses com os hormônios do amor lá no talo. Te chamavam de puta na rua, vc agradecia e sorria como uma fada. E então esse app bizarríssimo, chamado Gravidez, é atualizado para a nova versão 'mãe de fato'. E eis que na atualização, perde-se TODO (eu disse: TODO) o hormonão delícia de uma vez só. Olha como o desenvolvedor vacilou. Dava pra fazer a queda mais devagar? Dava. Mas não, eles decidiram tirar tudo em 10, no máximo 15 dias. E então o efeito é: uma puta deprê.

Anote aí no que consiste o Baby Blues e já, de brinde, umas dicas de como lidar (que chamei de Baby Rock, tipo: mãos a obra pra lidar com essa merda) e tomara que ajude vc, que é diferente de mim, claro:

. Vontade de chorar absurda, por tudo e por nada.
> Dica: chore tudo, a hora que quiser, pelo que quiser.

. Raiva dantesca da intromissão das pessoas na sua vida, das opiniões, do faz assim, faz assado, assim tá errado, eu fazia assim e tal.
> Dica: Poupe-se, proteja-se, afaste-se, permita-se ficar mais na sua.

. Sensação de que é muito mais complexo do que parecia e que vc não vai dar conta.
> Dica: passa rápido se vc não entrar na bad trip. Desperta geralmente quando vc vai pegar no colo e erra a mão, faz alguma cagadinha, tenta tirar a blusa da criança sem tirar a manga primeiro e esses vacilos normais. Respire e pense: em 1 mês tô dominando essa plataforma e sim, sou foda. Meu nenem me curte.

Calma lá, gente...
. Insegurança a nível de alta baixa estima.
> Dica: vai rolar de se sentir péssima. Não tem jeito. E não, o caminho não é se maquiar, fazer luzes, cortar o cabelo, fazer unha. Isso são os paliativos impostos. O lance não é por fora. É por dentro. Dê uma boa penteada no seu amor próprio, entenda e veja a grandeza de ser mulher, de ser mãe e que isso é mais foda que muita coisa que vc fazia antes. Não caia na armadilha de achar que estética resolve dialética. Pense, analise, entenda-se, resignifique-se. Não foda a si mesma nessas horas. Nunca.

. Sensação de que sua vida nunca mais vai ser a mesma.
> Dica: você está certa. Não vai mesmo. Mas olha que legal... Quem nasce, cresce, reproduz e morre sempre igual é planta. E muita gente, claro. Mas que boring, né? Tente ver a beleza de nascer de novo, junto com sua cria. Tente conhecer a sua nova versão que, com certeza, é muito mais foda que a versão passada. Esquece esse papo de nunca mais você vai ter tempo, pro resto da vida alguém vai depender de você, esqueça noite de sono, sair, tomar um porre, namorar, viver, dançar. Mentira isso, juro! Você pode e deve fazer tudo isso de novo, só que agora, muito mais livre. Porque é pra você mesma e não pros outros. Quem inventou que filho é um problema tem problema. Filho é massa se você começar não seguindo o que sua mãe conta e o que as revistas pregam. Simples assim.

Colega: essa imagem é forçada, tá?
E o mais importante, pra fechar: desconstrua, todas as vezes que puder, a Ideologia da Maternidade, como bem disse a foda da Márcia Tiburi.

Tem muitas outras coisas (deixe nos comentários mais dicas pra gente se ajudar). E pra quem prometeu que o post ia ser direto: outra prova de que a gente nem muda tanto assim. Tá aqui a mãe prolixa fazendo um post enorme em consideração a todas as mulheres desse mundo que tem a grandeza e a coragem de parir, criar, nascer de novo e fazer do mundo um lugar melhor apostando que novas pessoas trazem a esperança de novos processos, logo, novo mundo.

Já para você que pensa que filho é pra si, pra não ficar sozinha, pra fortalecer o casamento, porque tem que ter, porque tá na idade e tal e coisa: licença, tenho um tanto de coisa pra fazer e não quero ficar deprê.


Um beijo triste,
Mamai



segunda-feira, 6 de abril de 2015

Obesidez e gravidade


Pesquisas apontam (mentira, eu que estou dizendo com base numa coisa que não uso muito, mas aqui me permito: o achismo) que 78% das mulheres que descobrem que estão grávidas pensam primeiro se vão engordar e depois ficam felizes. Destas, 97% escutam as frases abaixo (da mãe, da sogra, do pai, do ex, da amiga, da vizinha e pasmem, ás vezes, do próprio marido ou garanhão que a tenha emprenhado):

- iiiiih, vai engordar
- cuidado para não ganhar muito peso na gestação
- você vai ficar enorme
- só pode engordar 8 kgs 
- eu engordei só 1kg na minha gravidez

Bem, se você chegou nesse post porque está aí, toda grávida, digitando no Google "como não engordar na gravidez", vou aproveitar sua audiência pra te dar uma real: deixa de ser imbecil, minha filha!
Nossa, como ela engordou na gravidez, cê viu, menina? Dãããã
Grossa? Eu? Não, pera, vem cá... deixa eu te explicar. Lá estou eu com 33 anos de idade, uma pessoa bem informada, feliz e livre, até que engravido. Juro que pensava que não ia acontecer comigo, mas acontece. O povo acha mais importante apontar a estética do que falar do fato simples e fácil de você estar gerando uma vida. Foi muuuuuita gente se metendo nas minhas entranhas. Siiiim, nessa hora, anos e anos de Cláudia, Boa Forma, Bem Estar, mídias em geral, essa merda toda, falaram mais alto que minha emancipação. E chega a ser surreal esse tipo de constatação no meio da enxurrada de forças absurdas da - abre aspas, que ódio, opinião pública boçal - fecha aspas com raiva, onde quilos de clichês se espalham mais rápido que os hormônios, disfarçadinhos de preocupação com a saúde.

Nasceu. O bebê ou a lipo primeiro, senhora?
Anote aí os principais:

- engordar na gravidez é ruim pra saúde da mãe e do bebê (whaaaaat? como seu útero aumenta 1000 vezes o tamanho normal, vc fica com 5 litros de sangue a mais no corpo, a gordura é estocada naturalmente no quadril para facilitar o parto e proteger o útero e engordar é ruim?)

- o aumento de peso tem que ser controlado o tempo todo (nããão, para! tem que controlar pressão, glicose, taxas basais normais, o peso nãããão. É como pedir pra mulher ficar a gravidez inteira prestando atenção na respiração que se acelerar um pouco você tá fudida...)

- tem que fazer exercício físico a gravidez inteira pra evitar estria e sobrepeso (tem que fazer pooooorra nenhuma, tem que fazer o que te deixa bem, de acordo com o que seu corpo pede. Andar se quiser, não forçar caminhada, academia, dieta merda nenhuma. A vida é simples e não é em 9 meses  e com uma barriga gigante que você vai preparar a resistência pra se sentir mais certinha como mãe, anta!)

- obesas tem problemas na hora de parir (avápaputaquepariu quem afirma isso com a boca cheia e vai ler esse blog lindo aqui ó: Mães de Peso)

No mais, preciso só te alertar que tem uma indústria ainda maior que a da beleza dentro do universo da maternidade. Porque, prenha, a mulher tende a ficar mais sensível, sugestionável (leia-se consumista: compra tudo o que mandam, mesmo sem ter condições), cheia de dúvidas e medos, tudo é novo, o corpo muda o tempo todo e tudo o que era não é mais. Você perde um pouco a memória, o senso crítico, a força mas olha, juro, o amor próprio não. Você não perde isso não, prometo!

Ai, Miga! Tô de oito meses de gestação e não tenho barriga, olha! oO
Se você entrou na paranóia do corpo bem na hora que estava gerando outro, por favor, leia de novo esse post, leia outros, assuste-se terrívelmente com isso aqui e pare pra pensar. Não estamos aqui brigando com os biotipos lindos que não ganham mesmo peso ou com as mulheres que se sentem bem malhando, nadando, correndo... não! Estamos só pedindo que você reavalie e vanglorie seu corpo, a naturalidade do processo e A VIDA antes de vangloriar impensadamente a yoga, a nutricionista terrorista de merda, a academia na promoção pra grávida, o iogurte zero com gosto de areia doce, o óleo de amêndoa de 60 reais, essa merda toda que te oprime há séculos e agora, mais do que nunca, vai querer te pegar pelo pé.

Eu vi isso, juro. Eu dei uma preocupada com engordar no começo, eu tava cega, burra e por uma fração de semanas, fiquei meio pensativa. Sorte que retomei meu EU lírico rápido e ví... Gente! É como lutar contra o óbvio. Vacas, coelhas, cachorras, mulheres, porcas, bezerras... todas as fêmeas aumentam durante a gestação e aí vem um padrão e diz: nossa, fulana está sem cintura na gravidez. É surreal, é irracional!

Pelos grupos que passei, em boa parte vi: mulheres se martirizando e fazendo posts e mais posts, comentários e mais comentários sobre seus medos de estarem engordando, e o marido não me quer, e vou ter estria e gastando tardes e tardes nessa nóia enquanto fazem nada menos que um osso! Já paramos pra pensar nisso? Estamos produzindo um osso, um sistema nervoso, UM SER HUMANO, caráleo, bem ali na nossa barriga e nos perdendo nessas preocupações impostas. E muitas mentem, dizem que não engordaram, como se fosse motivo de vergonha... Se engordar é o certo, como pode o sistema emplacar na gente o contrário? Fico até sem ar de pensar em como chegamos até aqui...

Conheça o Projeto da Jade Beall
Aceita sua bundona larga, a cintura sumindo, fica feliz, fica mulher, linda, firme, forte e flácida. A gravidade vem pra todo corpo que pisa a Terra e a obesidez que se foda. Vai ser prenha toda que, ó, quando você estiver pra parir, ou parindo, ou parido 'ce vai ver, boba...', não tem nada mais magnífico que gerar uma vida, catzo!

E colocar um ser humano no mundo, fazer dele uma pessoa de bem, passar por tudo isso como uma guerreira, diva, geradora de vida e anca... isso ninguém fala mto, coisinha. Mas, isso sim, torna uma mulher bonita, gostosa e foda pra caráleo.

Tamos combinadas?

Love,
Mamai

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

História pra não dormir

Era eu uma pedra no fundo do rio, parada, acumulando limbo de angústias e preocupações mundanas. Um dia veio ela. Numa velocidade absurda, num movimento incontrolável, me deslocando correnteza abaixo.

E então fui soltando o corpo, ficando mais limpa e começando a entender o fluxo da vida da maneira mais clara e bonita que se pode imaginar.

E olha que ainda nem desembocamos no mar...

Obrigada, Lis.

 
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